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Arquitetos: HARQUITECTES
- Área: 631 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:Adrià Goula
Descrição enviada pela equipe de projeto. Uma casa no meio da cidade. Uma casa para uma família de 5 ou 6 membros, com muitos usos e cômodos, situada em uma área de alta densidade urbana e em um terreno que, apesar de ser bastante largo e comprido, está cercado por outras construções e convive com a pressão própria de uma grande cidade. Da edificação existente, apenas a fachada para a rua permanecerá, visto que é catalogada como patrimônio.
A regulamentação permite a construção de um térreo e dois andares, com uma profundidade considerável que atende perfeitamente às necessidades dos clientes, mas ao mesmo tempo essa condição de muita profundidade faz pensar que poderia ser uma casa com uma área interna muito escura e mal ventilada.
O projeto começa a partir do desafio de qualificar o centro, de priorizá-lo e torná-lo o melhor lugar da casa. É um terreno largo que permite a possibilidade de recuperar tipologias tradicionais de pátio interno ou de átrio, onde o centro da casa se torna o melhor espaço, o mais representativo e o que indiretamente qualifica o restante dos espaços ao seu redor.
O centro é transformado em um espaço muito mais conectado com o exterior, cheio de luz e com a possibilidade de se abrir e ventilar toda a casa. Um espaço intermediário que - embora planejado - permite que a intensidade natural do clima entre desde a cobertura e divida a casa ao meio, esvaziando-a, tornando-a mais espaçosa e permitindo-a respirar. Um espaço que, por suas condições menos domésticas de altura, luz e ventilação, consegue transmitir uma sensação de exterior. A verticalidade do espaço central e a abertura zenital organizam a ventilação e a luz. Tornam visível o invisível deslizando a luz natural até o fundo do átrio ao mesmo tempo em que estimulam a velocidade da ventilação e a saída do ar quente para cima, em direção ao exterior.
O programa organizado em torno do espaço central é extenso e bastante fragmentado. Propomos uma segunda categorização do programa que o hierarquize de forma que cada andar tenha quatro espaços importantes maiores e mais altos, os quais são complementados com espaços secundários menores e claramente de menor altura.
Aproveitamos a hierarquia entre os espaços para absorver a forte irregularidade do terreno e resolver todos os espaços de forma regular e ortogonal nos cômodos principais. Como em uma arquitetura escavada, as diferentes direções dos espaços são absorvidas pelas espessuras das paredes.
Os cômodos principais mantêm sempre a mesma posição e tamanho em todos os andares, enquanto as peças complementares variam, adaptando-se e ocupando o espaço intersticial e irregular que está entre as peças principais. Grandes paredes estruturais, muito espessas e pesadas, dotam a casa de estabilidade térmica, mas ao mesmo tempo estão seletivamente desimpedidas para acolher os programas menores - e muitas vezes mais sensíveis - em seu interior.
As grandes paredes foram construídas com concreto feito in loco. Uma mistura com muito pouco cimento e uma seleção de areias e britas que, aplicada com uma técnica de compactação semelhante à da taipa, é uma solução monolítica muito robusta e com muita inércia térmica, mas ao mesmo tempo suficientemente porosa para ajudar a regular e estabilizar a temperatura, umidade e acústica dos espaços.
Os pés-direitos dos espaços principais são sempre os mais altos possíveis para se diferenciar ao máximo dos espaços complementares, que são totalmente minerais e escavados dentro dos muros.
O espaço central é o mais coletivo, o mais primordial e especial da casa. Trata-se de um átrio no térreo e no primeiro andar combinado com um pátio sobreposto no segundo nível. Dois arquétipos com uma geometria e dimensões muito marcantes que se encaixam um sobre o outro e de onde os espaços são organizados.
O átrio é o espaço mais alto da casa, com quatro pilares centrais que liberam o pátio central, delimitando e enquadrando um espaço virtual no meio da casa, onde está localizada a sala de estar.
O pátio superior é um espaço de características semelhantes, com muita altura e luz natural, mas sem a centralidade do átrio. Nele, o uso, em vez de ocupar o centro, circunda o pátio. Ele cede o protagonismo à luz e à ventilação e se situa no perímetro, ampliando os espaços de circulação. É uma extensão dos quartos, o espaço coletivo.
Uma casa dentro da cidade, que por suas características tipológicas e construtivas se reconecta com modelos tradicionais mediterrâneos característicos da cidade de Barcelona, como pátios góticos e seus valores bioclimáticos e de bem-estar. Espaços projetados para incorporar e exaltar a luz natural, a estratificação do ar ou a força da gravidade. Uma casa que tenta recuperar as relações com o que nos rodeia; uma casa urbana.